terça-feira, maio 27, 2008

Pastor nega participação no assassinato de Lucas Terra

27/05/2008
(13:19)
atualizada em 27/05/2008 (16:52)

Pastor nega participação no assassinato de Lucas Terra

Marco Aurélio Martins
Agência A Tarde

Acusado conversa com advogados antes de assinar o depoimento


O pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), Fernando Aparecido da Silva, negou participação no assassinato do adolescente Lucas Terra, em 2001. A declaração foi dada nesta terça-feira, 27, em interrogatório no Fórum Ruy Barbosa.

Silva alega, ainda, que o ex-pastor Sílvio Galiza, que o acusou de participação no crime, tem problemas mentais. Galiza, que cumpre pena de 15 anos na Penintenciária Lemos de Brito, em Salvador, também acusou o pastor Joel Miranda de participar do assassinato de Lucas, que foi violentado e queimado vivo.

O interrogatório durou três horas. Na avaliação da promotoria, o pastor apresentou muitas contradições. Silva apontou um novo envolvido no caso, mas o promotor de justiça estadual Davi Gallo Barouh descarta a participação desta pessoa, cuja identidade não foi divulgada e que já foi ouvida durante a investigação.

Na próxima quinta-feira, 29, o ex-pastor Sílvio Galiza será ouvido novamente sobre o caso. Galiza também deverá participar de uma acareação com o pastor Fernando Silva. Inicialmente, o encontro dos acusados está previsto para acontecer na próxima terça-feira.


*Com informações de Danile Rebouças, do A TARDE (27.05.2008)

Caso Lucas Terra: Bispo da Universal será acareado nesta terça

João Alvarez
Agência A Tarde

Advogado de defesa diz que prisão de bispo seria irregular

George Brito e Marjorie Moura, do A TARDE
Uma quarta pessoa pode ter participado do assassinato do garoto Lucas Terra, em 2001, segundo Carlos Terra, pai da vítima. A afirmação foi feita nesta segunda-feira, 26, à tarde, logo após o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) Fernando Aparecido da Silva, um dos acusados do crime, ter se recusado a comparecer à apresentação à imprensa. Na audiência de acareação que acontece nesta terça-feira, às 9 horas, na 2ª Vara de Júri, do Fórum Ruy Barbosa, há a expectativa de que os interrogados forneçam mais detalhes do crime e confirmem esta possibilidade.

O bispo Aparecido está preso desde o último sábado na Polinter. Foi detido na última sexta-feira, no Recife (PE), por agentes do Centro de Operações Especiais (COE), sob comando do delegado Hélio Jorge. Carlos Terra diz estar decepcionado com a recusa do bispo em não prestar esclarecimentos à imprensa.

Mas, segundo o pai da vítima, no novo depoimento o pastor Sílvio Galiza relatou em depoimento à Justiça que haveria mais uma pessoa envolvida no crime, além de Fernando Aparecido da Silva e o pastor acusado Joel Miranda.

Recusa – O delegado-chefe da Polícia Civil da Bahia, Joselito Bispo, explicou que a recusa é um direito garantido pela Constituição Federal. “É uma questão de foro íntimo”, disse. Segundo ele, estão em andamento as buscas pelo pastor Joel Miranda. Na semana passada, agentes do COE estiveram no Rio investigando o paradeiro do acusado. Policiais daquele Estado seguem com as buscas. O pastor reside em Cabo Frio (RJ), segundo a polícia.

Carlos Terra, mais uma vez vestido de preto, tentou nesta segunda audiência com a presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, desembargadora Sílvia Zarif, para evitar a concessão do habeas corpus. Ele esteve também na Polinter, onde encontrou o advogado de defesa Mário de Oliveira Filho, que permaneceu mais de uma hora com o cliente.

Defesa – O bispo Fernando Aparecido e o pastor Joel Miranda tiveram prisão preventiva decretada dia 22, pelo juiz Vilebaldo Freitas, por não comparecerem às três audiências de acareação, sob alegação de não terem dinheiro para viajar até Salvador. Segundo o advogado Mário de Oliveira Filho, a prisão é irregular, pois os acusados não foram citados e, portanto, não estão incluídos no processo.

O advogado afirmou que, pelo fato de residirem numa comarca diferente de onde tramita o processo, os acusados têm o direito de ser interrogados por carta precatória. Ambos foram representados por ele, frisou, nas audiências em Salvador. Ele alegou que a acareação estava marcada para esta terça e que os acusados haviam comprado passagens aéreas e feito reservas num hotel, cujo nome não soube informar.

O advogado disse que o pedido de prisão pedido pelo MP foi baseado nas acusações de Galiza, assim como a decretação da prisão. Disse ainda que o pedido de habeas corpus será distribuído nesta terça no TJ Bahia e, se necessário, será feito recurso ao Superior Tribunal de Justiça. (26.05.2008)

MP sugere um quarto envolvido no caso Lucas Terra

Promotor Davi Gallo nega haver provas concretas, mas diz que suspeita baseia-se no ‘modus operandi’ do crime

Perla Ribeiro

As investigações do Ministério Público Estadual (MPE) apontam para a possibilidade de um quarto envolvido no assassinato do adolescente Lucas Terra. Porém, o promotor da 2ª Vara do Júri, Davi Gallo Barouh, informa que as suspeitas não são baseadas em provas concretas, mas sim, em especulação jurídica. A tese é sustentada pelo modus operandi do crime. O promotor parte do pressuposto de que os três acusados não dariam conta sozinhos do crime e que essa quarta pessoa teria participado na ocultação e desova do cadáver.


Apesar da especulação, Gallo diz que as investigações continuam e aposta que novos fatos surgirão com os depoimentos do pastor Fernando Aparecido e do pastor Joel Miranda. Enquanto o primeiro continua foragido, Aparecido será interrogado hoje, na 2ª Vara do Júri. “Pode ser que muita coisa apareça com a instrução criminal”, cogita o promotor. A defesa do pastor não descarta a possibilidade de haver essa quarta pessoa e até especula duas outras possibilidades.


“Como o pai do garoto tem muitos inimigos, pode ser que alguém se vingou dele com a morte do filho. Também tem o obreiro Luciano, que foi visto no dia do crime acompanhado de Lucas e do pastor Sílvio Galiza”, sugere o criminalista Mário de Oliveira Filho. O pai de Lucas, Carlos Terra, também acha cabível a existência de mais um culpado, mas prefere silenciar sobre suas impressões. “Não posso afirmar nada nesse sentido porque não tenho como provar”, esquiva-se, alimentando o suspense.


Recusa - Preso na última sexta-feira em Jaboatão dos Guararapes, no Recife, Aparecido seria apresentado ontem à imprensa durante coletiva no prédio da Secretaria de Segurança Pública (SSP), da Piedade. Entretanto, recusou a aparição pública. Além de a recusa ser um direito assegurado pela Constituição Federal, a defesa do pastor também entrou com uma petição na 2ª Vara do Júri requerendo esta garantia. Já para a audiência de hoje, sua presença é obrigatória.


A única possibilidade de ausência seria por um problema de saúde, mas o promotor já adianta: “Se isso ocorrer, pediremos que ele seja avaliado por uma junta médica. Já adiaram demais. Não vamos mais permitir manobras da defesa”, explicou o promotor Davi Gallo. Embora o próprio delegado chefe da SSP, Joselito Bispo, tenha informado que o bispo participará hoje de uma acareação com o já acusado Sílvio Galiza, Gallo diz que primeiro ocorrerá o interrogatório. Só depois, poderá ser marcada a acareação.


Mantido desde o último sábado sob a custódia na sede do Departamento de Polícia Interestadual (Polinter), Fernando Aparecido terá o próximo destino definido hoje pelo titular da 2ª Vara Júri, o juiz Vilobaldo José de Freitas Pereira. Quanto a Joel Miranda, o delegado-chefe da SSP informou que as buscas continuam no estado do Rio de Janeiro. “Já localizamos a residência dele em Cabo Frio, mas não o encontramos. O trabalho das buscas continua até que consigamos efetivar a prisão”, disse Bispo. No Rio, a diligência está sendo coordenada pelo diretor do Comando de Operações Especiais da Polícia Civil (COE), Jardel Perez.


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RETROSPECTIVA


O CRIME aconteceu em 21 de março de 2001 e obteve repercussão internacional. De acordo com os autos do processo que tramita na 2ª Vara do Júri, Lucas Terra, então com 14 anos, sofreu abuso sexual e foi estrangulado no templo da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) no Rio Vermelho. Imaginando que o garoto estivesse morto, os criminosos incendiaram o corpo em um terreno baldio às margens da Avenida Vasco da Gama.


Posteriormente, um laudo do Departamento de Polícia Técnica apontou que a vítima ainda estava viva quando lhe atearam fogo. Lucas era o caçula do casal José Carlos e Marion Terra. O adolescente passou a freqüentar a Iurd por causa da primeira namorada, que era obreira. Embora os pais não freqüentassem a instituição, acreditavam que o filho estaria seguro indo aos cultos.


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Pai da vítima mantém peregrinação

Enquanto a defesa do pastor Fernando Aparecido se movimenta para entrar com o pedido de habeas-corpus do cliente, o empresário e pai de Lucas, Carlos Terra, faz o movimento contrário – quer barrar o pedido. Ontem, a peregrinação começou cedo. Antes de o Tribunal de Justiça ser aberto, ele já aguardava na porta. A expectativa era de ser recebido pela presidente da casa, Sílvia Zarif. Não carregava nenhuma tese jurídica para justificar o apelo: “Fui pedir como pai que a Justiça baiana não conceda o habeas-corpus”, contou.


Como Zarif participava de eventos externos, deixou registrado o pedido com a sua secretária. De lá, Carlos Terra seguiu rumo ao Fórum Ruy Barbosa, no Campo da Pólvora. Visita costumeira do local, ele queria confirmar a audiência marcada para hoje. A próxima parada foi na Polinter, onde se informou sobre a permanência do pastor na unidade e recebeu com decepção a notícia de que ele não se apresentaria para a imprensa. “Até hoje eles se sobrepuseram à Justiça, é uma estratégia da defesa para resguardá-los. Mas não sou só eu que quero justiça, a sociedade baiana também quer”, disse o pai.


Vestido de preto dos pés à cabeça, ele disse que só vai tirar o luto quando conseguir colocar todos os responsáveis pela morte do filho atrás das grades. Hoje, Carlos Terra volta à 2ª Vara do Júri e, num protesto silencioso. Levará consigo imagens de Lucas vivo e do corpo carbonizado. “É duro e cruel, mas é necessário”, justifica, referindo-se às imagens.


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Defesa do pastor alega arbitrariedade

Bruno Wendel


Prisão arbitrária. É o que alega o advogado criminalista Mário de Oliveira Filho, defensor do pastor Fernando Aparecido da Silva, preso no final de semana pela morte brutal do adolescente Lucas Terra, violentado, estrangulado e depois queimado vivo em 21 de março de 2001. Durante coletiva à imprensa ontem à tarde, Mário Filho afirmou que seu cliente não foi arrolado no inquérito e que o juiz titular da 2ª Vara do Juri de Salvador, Vilebaldo Freitas, que determinou a prisão preventiva na quarta-feira, agiu motivado por apelação pública. Em contrapartida, o promotor David Gallo dispara: “Eles estão brincando com o processo. Não compareceram a três acareações e por isso o juiz expediu o mandado”.


Ex-advogado de Suzane von Richthofen, ré confessa do assassinato dos pais, Manfred e Marísia von Richthofen, em outubro de 2002, Mário também é o defensor do pastor Joel Miranda, igualmente acusado de participação na morte de Lucas Terra, que está foragido. O criminalista disse que seus clientes não compareceram às audiências marcadas em Salvador porque estavam cobertos por uma carta precatória concedida pelo próprio juiz Vilebalo. Ou seja, reservavam a eles o direito de serem interrogados na comarca de Pernambuco, onde residiam. Disse também em que o nome de Fernando não está inserido no inquérito que apura a morte do adolescente e que por isso ele nem poderia ser interrogado.


O advogado criminalista afirmou ainda que, mesmo assim, Fernando vem colaborando com o andamento do processo e que embarcaria ontem num vôo da TAM para Salvador, onde compareceria ao interrogatório, no Fórum Ruy Barbosa. Com base nessas condições, Filho dará entrada hoje com um pedido de habeas-corpus no Tribunal de Justiça do Estado e ao Superior Tribunal de Justiça.


No entanto, o promotor Davi Gallo não acredita que os acusados venham a ser beneficiados pelo habeas-corpus. “A prisão foi bem fundamentada, não creio nessa possibilidade”. Gallo não negou que o juiz concedeu o direito dos acusados serem interrogados foram do estado, mas, segundo ele, Fernando e Joel teriam que comparecer também às acareações em Salvador, onde ficaram cara-a-cara com o pastor auxiliar Silvio Galliza (condenado a 18 anos de prisão em regime fechado).


“Sobre as ausências nas acareações, os advogados da Iurd alegaram que a instituição não tinha o dinheiro para as passagens. Como pode? Não tem recursos para a deslocamento de um estado para outro, mas tem para bancar uma série de defensores por tempo indeterminado num hotel de luxo da cidade. É inadmissível. Eles estão brincando com Justiça baiana”, esbraveja. Ainda segundo Gallo, consta na denúncia feita ao Ministério Público que Fernando teria participado da ocultação do cadáver.

(Correio da Bahia Online - 27.05.2008)